Perguntas frequentes
Direito ao tratamento médico
O meu médico tem o dever de perguntar se sou praticante desportivo sempre que me prescreve um medicamento contendo uma substância proibida?
Não. O praticante desportivo é que tem a obrigação de informar o médico em relação à sua condição de praticante desportivo.
Como tenho de agir se tiver de utilizar, por motivos de saúde, uma substância proibida?
Terá que solicitar em colaboração com o seu médico uma Autorização de Utilização Terapêutica à ADoP, utilizando os modelos e os procedimentos disponíveis neste sítio internet.
Encontra toda a informação relativa à solicitação de Autorizações de Utilização Terapêutica (AUT) de substâncias e métodos proibidos aqui.
Para informações suplementares, poderá ligar para o numero 21 051 72 13.
Dopagem Sanguínea
O que é a dopagem sanguínea?
Dopagem sanguínea é o uso impróprio de certos métodos e/ou substâncias tendentes a aumentar a massa de glóbulos vermelhos no sangue, o que permite ao corpo fornecer mais oxigénio aos músculos e, consequentemente, aumentar o rendimento.
Quais são as formas mais comuns de dopagem sanguínea?
As formas mais comuns de dopagem sanguínea são 3: eritropoietina (EPO), transportadores artificiais de oxigénio, e a transfusão de sangue. Todas são proibidas segundo a Lista de Substâncias e Métodos Proibidos da Agência Mundial Antidopagem (AMA).
O que é a EPO?
A EPO é uma hormona peptídica produzida naturalmente pelo corpo humano. A EPO é libertada pelos rins e acuta ao nível da medula óssea, estimulando a produção de glóbulos vermelhos.
Um aumento do número de glóbulos vermelhos traduz-se no aumento da quantidade de oxigénio que o sangue pode fornecer aos músculos. Também pode aumentar a capacidade corporal para neutralizar ácido láctico.
Quais são os efeitos do uso impróprio de EPO?
Embora o uso adequado de EPO traga enormes benefícios terapêuticos no tratamento da anemia associada a doenças oncológicas ou dos rins, o seu uso impróprio pode traduzir-se em enormes riscos para os praticantes desportivos que usam esta substância apenas para ganhar uma vantagem em termos competitivos.
É bem sabido que a EPO, ao aumentar a viscosidade do sangue, se traduz num risco acrescido de se contraírem doenças potencialmente mortais, tais como doenças cardíacas, enfarte do miocárdio, e embolia cerebral ou pulmonar.
O uso impróprio de EPO recombinante (EPO sintética) pode também causar doenças autoimunes com sérias consequências para a saúde.
Quando foi implementada a deteção de EPO?
O teste para a deteção de EPO foi introduzido nos Jogos Olímpicos de Verão de 2000, em Sydney, na Austrália. O teste, validado pelo Comité Olímpico Internacional (COI), era baseado numa análise ao sangue e à urina. A análise ao sangue era realizada em primeiro lugar e a análise à urina era realizada para confirmar a possível utilização de EPO.
Em Junho de 2003, o Comité Executivo da AMA aceitou os resultados de um relatório independente, que afirmava que a análise à urina era, por si só, suficiente para confirmar a presença de EPO recombinante. Este relatório, cuja necessidade foi realçada por alguns parceiros da AMA e encomendado pela própria Agência para validar a eficácia da utilização conjunta de análises ao sangue e à urina na deteção de EPO recombinante, concluiu que a análise à urina é o único método validado cientificamente para a deteção direta de EPO recombinante.
Este relatório recomendou também que as análises à urina devam ser usadas em conjunto com as análises ao sangue, por um conjunto variado de razões; nomeadamente, uma triagem inicial através de análises ao sangue permite selecionar as amostras de urina a submeter à deteção de EPO recombinante, rendibilizando assim os custos. Algumas federações internacionais ainda utilizam a análise ao sangue em conjunto com a análise à urina na deteção de EPO.
O que são transportadores artificiais de oxigénio?
Os transportadores artificiais de oxigénio, como hemoglobinas sintéticas (HBOCs) ou perfluoroquímicos (PFCs) são proteínas purificadas ou químicos com a capacidade de transportar oxigénio.
Os transportadores artificiais de oxigénio são usados para efeitos terapêuticos em emergências quando sangue humano não se encontra disponível, quando o risco de infeção do sangue é elevado ou quando não há possibilidade de verificar se o sangue do dador é compatível com o do recetor. No entanto, a sua utilização inadequada para efeitos de dopagem acarreta o risco de doenças cardiovasculares, bem como outros efeitos secundários graves (ex. apoplexia, enfarte do miocárdio, embolias).
Os transportadores artificiais de oxigénio podem ser detetados?
Sim, os testes foram iniciados em 2004.
Quais são os diferentes tipos de transfusão sanguínea utilizados para dopagem?
Existem duas formas de dopagem sanguínea: autóloga e homóloga.
Dopagem sanguínea autóloga é uma transfusão do próprio sangue, que haja sido previamente armazenado (refrigerado ou congelado) até ao seu uso.
Dopagem sanguínea homóloga é uma transfusão de sangue que foi retirado de uma outra pessoa com o mesmo grupo sanguíneo.
Embora o uso da transfusão de sangue para dopagem se verifique já há várias décadas, atualmente volta a verificar-se com maior frequência, devido à introdução dos métodos de deteção de EPO a partir de 2000.
Quais são as formas de transfusão de sangue que podem ser detetadas?
O teste para a deteção da transfusão de sangue homóloga foi implementado pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.
A AMA financia projetos tendentes a desenvolver um teste que permita detetar a transfusão de sangue autóloga.
Quais são os efeitos secundários da dopagem através da transfusão sanguínea?
Tal como as outras formas de dopagem sanguínea, as transfusões têm sérias consequências médicas. O sangue de terceiros pode conter vírus (sida ou hepatites B e C) que sejam involuntariamente transmitidos durante a transfusão. Se o atleta recorre ao seu próprio sangue, tal pode acarretar sérios riscos para a saúde, se o procedimento não for executado corretamente ou se o sangue não tiver sido armazenado corretamente. Para além disso, um nível anormalmente elevado de glóbulos vermelhos aumenta o risco de ataque cardíaco, apoplexia e embolismo cerebral ou pulmonar.
Esteróides Anabolisantes
Porque são utilizados pelos praticantes desportivos?
Os esteróides anabolizantes são tomados (em grandes doses) por lançadores, halterofilistas e eventualmente por praticantes desportivos de todo o tipo de desportos que envolvem força explosiva. São utilizados igualmente por pessoas que querem melhorar a sua aparência através da obtenção de um corpo mais musculado.
Parecem ser responsáveis pelo aumento da massa muscular e da força, quando o indivíduo em questão faz um treino e uma nutrição adequados. Estas substâncias estimulam igualmente a agressividade.
Efeitos secundários gerais:
- Queda do cabelo;
- Acne (borbulhas na pele);
- Lesões ao nível do sistema reprodutor, levando à infertilidade;
- Diminuição do crescimento corporal quando utilizados por jovens em fase de crescimento (os jovens não atingem a estatura que lhes estava destinada geneticamente, por exemplo);
- Roturas tendinosas;
- Hipertensão arterial;
- Doenças cardiovasculares; Doenças hepáticas (fígado);
- Aparecimento de tumores malignos (cancros) no fígado e próstata (entre outros);
- Hepatites B e C e Sida por contaminação a partir da partilha de agulhas utilizadas na administração por via injetável;
- Aumento da agressividade;
- Dependência psíquica.
Hormona de Crescimento Humana (hGH)
O que é a hGH?
A hormona do crescimento humana (hGH) é uma hormona que é sintetizada e secretada por células da hipófise, localizada na base do cérebro.
A hGH acuta em muitos aspetos do metabolismo celular e é também necessária para o crescimento do esqueleto em humanos.
O principal papel da hGH no crescimento corporal passa pela estimulação do fígado e de outros tecidos para a secreção de fatores de crescimento insulina-like (IGF-1). O IGF-1 estimula a produção de células cartilagíneas, promovendo o crescimento ósseo e desempenha também um papel fundamental no crescimento de músculos e órgãos.
A hGH é proibida, quer em competição, quer fora de competição, segundo a Lista de Substâncias e Métodos Proibidos da Agência Mundial Antidopagem (AMA), em vigor no nosso país.
Quais são os efeitos secundários do abuso de hGH?
Os efeitos secundários mais comuns no abuso de hGH são:
- diabetes em indivíduos propensos;
- agravamento das doenças cardiovasculares;
- dores musculares, das articulações e dos ossos;
- hipertensão e deficiências cardíacas;
- crescimento anormal dos órgãos;
- osteoartrite acelerada.
Em indivíduos acromegálicos (caracterizados pela produção patológica de hGH em excesso), muitos dos sintomas acima mencionados são observados e a esperança de vida é reconhecidamente reduzida.
Devido ao papel desempenhado pela hGH na estimulação da secreção de IGF-1, o uso excessivo de hGH pode levar a disfunções metabólicas, incluindo intolerância à glucose e outros efeitos secundários associados a níveis excessivos de IGF-1.
Existe um teste para a deteção de hGH?
O teste para a deteção de hGH foi pela primeira vez utilizado nos Jogos Olímpicos de Verão de 2004, em Atenas, Grécia. O teste para a deteção de abuso de hGH é um teste sanguíneo.
O teste para a deteção de hGH é fiável?
O teste atualmente em uso é fiável.
Um novo teste, que se encontra na fase final de desenvolvimento, será combinado com o teste atualmente em uso para aperfeiçoar a janela de deteção do abuso de hGH.
Os conceitos e o desenvolvimento de ambos os testes de deteção de hGH foram sistematicamente revistos por peritos independentes em matérias como a hGH, endocrinologia, imunologia, química analítica, etc. Para além disso, esses testes são o resultado de quase 6 milhões de dólares em investigação, ao longo de mais de 10 anos.
A investigação foi iniciada pelo Comité Olímpico Internacional (COI) e pela União Europeia, e depois foram prosseguidos pela AMA, aquando da sua criação, tendo a investigação científica como uma das suas prioridades.
Porque é que tem havido uma implementação limitada do teste de deteção de hGH?
O teste atualmente em uso é realizado utilizando uma amostra de sangue e foi implementado numa escala limitada através de um conjunto de laboratórios antidopagem acreditados pela AMA, a nível mundial.
Os anticorpos usados para os testes atualmente utilizados são produzidos em ambiente de investigação. A produção de anticorpos em ambiente de investigação é sempre realizada em quantidades reduzidas.
A produção industrial dos anticorpos é o próximo passo para a implementação do teste de deteção de hGH a nível mundial.
Quando estará concluída a produção industrial?
Já foi produzido o protótipo de um kit passível de comercialização. A AMA avança agora para a fase final, que implica o trabalho em conjunto com uma empresa privada, tendo em vista a sua produção e distribuição em larga escala.
Porque é que não há ainda registo de casos positivos de deteção de hGH?
O teste foi introduzido nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e noutros eventos desportivos de relevo. No entanto, como o hGH é geralmente usado pelos praticantes desportivos fora de competição, por causa do seu efeito anabólico, o teste é mais eficiente quando implementado em controlos sem aviso prévio e fora de competição.
A implementação generalizada do teste, através da sua produção em larga escala, irá certamente alterar esta estatística.
É provável o desenvolvimento de um teste de deteção de hGH através da urina?
De acordo com a esmagadora maioria dos peritos internacionais, a matriz sanguínea é a mais fiável para a deteção da hGH.
A hGH na urina é detetada em quantidades ínfimas (menos de 1% da quantidade detetável no sangue).
De acordo com os peritos internacionais na matéria, o desenvolvimento de um teste de deteção de hGH através da urina iria requerer muitos recursos e tempo, e as hipóteses de sucesso são remotas
Os malefícios orgânicos das substâncias e métodos proibidos
Agentes anabolisantes
A Secção S.1 Agentes Anabolisantes da Lista de Substâncias e Métodos Proibidos da Agência Mundial Antidopagem inclui esteroides anabolisantes exógenos e endógenos e outros agentes anabolisantes que não pertencem à família dos esteroides.
Em 1954, correram rumores que halterofilistas da União Soviética utilizavam testosterona para aumentar as suas massas musculares. Os esteroides anabolisantes sintéticos começaram a ser utilizados por altura dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964 e foram criados com dois objetivos principais: por um lado, aumentar o seu tempo de ação, pois a testosterona tem uma semivida muito curta; por outro lado diminuir os indesejáveis efeitos androgénicos da testosterona, preservando ao máximo os seus efeitos anabólicos. No entanto, estes derivados sintéticos são muito tóxicos para o fígado, como por exemplo o estanozolol e a metandienona, e dai as consequências muito nefastas que se podem verificar a nível hepático com a sua administração.
Qualquer esteroide anabolisante tem sempre efeitos anabólicos e androgénicos. Na sua utilização como substâncias proibidas no desporto o seu efeito androgénico é indesejável, pois desenvolve os carateres sexuais secundários: tem efeitos virilizantes, levando ao aumento e desenvolvimento dos genitais e dos órgãos sexuais acessórios, ao crescimento dos pelos da face e do corpo e ao desenvolvimento das características masculinas da voz.
Pode também originar efeitos feminizantes no homem, com o aparecimento de ginecomastia (aparecimento de seios no homem), pois o excesso de androgénios na circulação sanguínea origina uma aromatização dos mesmos em estrogénios (hormonas sexuais femininas).
Os seus efeitos anabólicos (os procurados com a sua utilização com objetivos dopantes) originam um aumento do anabolismo e uma diminuição do catabolismo proteico, um aumento do número de glóbulos vermelhos por aumento da sua produção na medula óssea por estimulação da eritropoietina, um aumento da deposição do cálcio nos ossos e um aumento da velocidade da curva de crescimento, acompanhado de um encerramento precoce das cartilagens de crescimento que pode conduzir ao não atingimento da estatura que estava determinada geneticamente em jovens praticantes. Este encerramento precoce das cartilagens de crescimento está dependente das doses e da duração da administração e deve-se por um lado a uma ação direta dos esteroides anabolisantes nessas cartilagens e, por outro, a uma inibição da produção da hormona de crescimento ao nível da hipófise.
Os agentes anabolisantes podem também ser utilizados para melhorar a capacidade de recuperação muscular. Durante atividades caracterizadas por utilização da atividade excêntrica a nível muscular, ou em atividades prolongadas, verificam-se fenómenos de destruição de células musculares no decurso da fase catabólica que necessitam ser devidamente reparados no período de recuperação, através de uma adequada síntese proteica a nível muscular. Dessa forma, os agentes anabolisantes podem ser utilizados visando incrementar essa síntese.
O ganho de peso após utilização dos esteroides anabolisantes deve-se não só a uma hipertrofia das fibras musculares, mas também a uma retenção de líquidos pelo nosso organismo. Alguns autores afirmam mesmo que o aumento do peso é causado mais por ganho de água muscular do que por hipertrofia das fibras musculares.
Os agentes anabolisantes causam igualmente aumento da agressividade, o que pode ser utilizado em alguns desportos de contacto, podendo no entanto pôr em causa a integridade física dos praticantes desportivos. Cenas de agressividade inusitada que acontecem muitas vezes à porta das discotecas e bares podem eventualmente ser devidas ao facto de alguns dos seguranças que aí trabalham serem consumidores de esteroides anabolisantes, dai resultando uma maior agressividade. A relação da agressividade com a ingestão de esteroides anabolisantes tem sido investigada essencialmente no âmbito de estudos realizados a nível da incidência de agressividade familiar entre utilizadores e não utilizadores.
Os esteroides anabolisantes podem também originar diversos efeitos secundários no sistema reprodutivo, tanto no homem como na mulher, motivados por uma diminuição da produção das hormonas hipofisárias LH e FSH. A produção destas hormonas é inibida por um sistema de retrocontrolo negativo a nível do hipotálamo e da hipófise, motivado por elevadas concentrações sanguíneas de esteroides anabolisantes com uma estrutura química semelhante à da testosterona. Quando as doses administradas são diminutas e a duração da administração é curta, estes efeitos são reversíveis traduzindo-se numa diminuição da quantidade de espermatozoides e em alterações da morfologia dos mesmos, causando uma diminuição da sua mobilidade no homem e alterações do ciclo menstrual na mulher. Se as doses administradas forem elevadas e a administração for prolongada no tempo, os efeitos sobre o sistema reprodutivo tornam-se irreversíveis, com o aparecimento de amenorreia (ausência de ciclo menstrual) no sexo feminino e de atrofia testicular no sexo masculino, conduzindo, em ambos os casos, à esterilidade.
A nível do fígado, verificam-se igualmente alguns efeitos secundários, principalmente após a administração de derivados sintéticos. Estes efeitos são reversíveis quando a administração é pouco prolongada, mas podem ser irreversíveis e muito graves em administrações prolongadas, mesmo que descontinuas. Numa fase inicial, existem apenas algumas alterações ao nível de algumas enzimas, como por exemplo transamises, desidrogenase láctica e creatinofosfoquinase, alterações que são em geral reversíveis após a interrupção da administração. A elevação destas enzimas sem outra causa aparente num indivíduo saudável deverá alertar o médico assistente para a eventual utilização de esteroides anabolisantes.
A administração de esteroides anabolisantes pode igualmente conduzir ao aparecimento de icterícia por colestase intra-hepática, que é geralmente reversível. A administração prolongada pode conduzir ao aparecimento de tumores hepáticos (carcinomas hepatocelulares, hepatomas, edenomas, etc.) que geralmente aparecem entre 10 a 20 anos após a administração, dificultando desse modo o estabelecimento de uma relação causa-efeito. O aparecimento de carcinomas hepáticos, décadas depois da utilização de esteroides anabolisantes e quando os praticantes desportivos já não são capa dos jornais, passa desse modo muitas vezes desapercebido.
A literatura científica descreve dois casos de carcinoma hepático em praticantes desportivos: um que tomou uma grande variedade de esteroides anabolisantes ao longo de 4 anos e outro que tomou oximetolona (100 mg/dia) durante 5 anos. Refira-se que a administração das substâncias não era contínua, mas sim em dois ou três períodos durante o ano. Está descrito igualmente um caso de adenoma hepático-celular num praticante de culturismo que tomou esteroides anabolisantes durante 3 anos, igualmente por ciclos de administração. Os 3 casos citados foram fatais.
Há alguns anos, no decurso de uma comunicação científica na Bulgária, num Seminário sobre Luta contra a Dopagem no Desporto organizado pelo Conselho da Europa, foi referido que a tarefa de educar os jovens em relação aos efeitos secundários dos esteroides anabolisantes era uma tarefa árdua e difícil, pois os jovens não acreditavam geralmente naquilo que se dizia sobre os esteroides anabolisantes. No final da comunicação, o palestrante foi interpelado por uma médica Búlgara que referiu não estar de acordo com essa afirmação pois no seu país era muito fácil um jovem tomar contacto com um ex-praticante desportivo padecendo de uma doença grave e muitas vezes mortal, adquirida muitos anos antes por ter utilizado esteroides anabolisantes, pois na Bulgária a utilização destas substâncias iniciou-se já há muitas décadas.
No homem, podem aparecer igualmente efeitos secundários a nível da próstata, que inicialmente se manifestam através de uma hipertrofia benigna da próstata, podendo mais tarde conduzir ao aparecimento de tumores malignos da próstata, por efeito da administração prolongada de esteroides anabolisantes e manifestando-se apenas muitos anos após a administração dessas substâncias.
A literatura científica refere um caso fatal de carcinoma da próstata verificado num praticante desportivo com 40 anos de idade que tomou de uma forma descontinuada esteroides anabolisantes durante 18 anos.
A utilização de esteroides anabolisantes está também relacionada com diversas alterações não só a nível do metabolismo glucídico, mas também a nível do metabolismo lípido. O uso prolongado de esteroides anabolisantes em praticantes desportivos origina uma diminuição da tolerância à glucose e níveis superiores de insulinémia, após ingestão da mesma, por aumento da resistência periférica à insulina. Verifica-se uma suscetibilidade aumentada para a diabetes mellitus, em pessoas predispostas. A nível do metabolismo lipídico, assistimos a uma diminuição dos níveis plasmáticos de HDL (high density lipoproteins) e a um aumento dos níveis de LDL (low density lipoproteins), conduzindo a uma diminuição da relação HDL/LDL, aumentando desse modo o risco cardiovascular.
Os utilizadores de esteroides anabolisantes têm também uma maior predisposição para o aparecimento de doenças cardiovasculares (AVC, enfartes do miocárdio, arteriopatias dos membros inferiores que podem conduzir à amputação dos mesmos, etc.). Estas doenças aparecem geralmente apenas 10 a 20 anos após a administração, dificultando desse modo o estabelecimento de uma relação causa-efeito. Este maior risco cardiovascular deve-se não só aos efeitos no perfil lipídico que já referimos, mas também a uma maior incidência de hipertensão arterial, por elevação dos níveis plasmáticos de aldosterona.
Larry Pacifi, um famoso halterofilista dos EUA, sofreu um enfarte do miocárdio aos 35 anos, embora apresentasse poucos fatores de risco cardiovascular na sua história clínica. Após o enfarte do miocárdio, afirmou que estava convencido de que o uso de esteroides anabolisantes tinha contribuído para a sua doença coronária.
Bob Hazleton, um conhecido praticante de Boxe, sofreu a amputação de ambos os membros inferiores aos 40 anos de idade, não padecendo de Doença de Buerger que representa usualmente a única causa de amputação de causa vascular em jovens adultos. A causa das amputações foi clarificada quando o praticante desportivo confessou ter ingerido doses elevadas de esteroides anabolisantes ao longo da sua carreira desportiva.
Verificam-se também efeitos musculo-tendinosos, com uma maior predisposição para o aparecimento de tendinites e de roturas musculares e tendinosas. As causas parecem ser diversas. Por um lado, os esteroides anabolisantes favorecem um crescimento desproporcionado da massa muscular em relação aos tendões, favorecendo a primeira. Resultam dai maiores trações sobre os tendões, que sofrem desse modo micro-traumastimos que podem levar a lesões degenerativas e/ou calcificantes, conduzindo a tendinite ou à rotura do tendão. Por outro lado, a menor resistência dos tendões e dos músculos ao estiramento e a atenuação da dor motivada pelo efeito anti-inflamatório potente dos esteroides anabolisantes podem conduzir a uma maior incidência de lesões musculares e/ou tendinosas.
Os esteroides anabolisantes podem ocasionar igualmente algumas interações medicamentosas, nomeadamente com anticoagulantes, anti-inflamatórios e antidiabéticos orais.
Hormonas peptídicas, fatores de crescimento e substâncias relacionadas
Este tipo de substâncias atua no organismo como mensageiros que levam à produção de outras hormonas endógenas, como a testosterona, ou estimulando o crescimento de determinados órgãos e tecidos. Pertencem a este grupo substâncias como a gonadotrofina coriónica, a hormona do crescimento, a eritropoietina, a insulina e diversos fatores de crescimento, entre outras.
Gonadotrofina Coriónica Humana (hCG)
Esta hormona aumenta a produção de esteroides endógenos e tem um efeito semelhante ao da testosterona. O uso de hCG parece aumentar o volume e a potência muscular em praticantes desportivos que fazem treino de força, por aumento da produção de testosterona pelos testículos. A administração de esteroides anabolisantes conduz, como já se referiu, a uma atrofia testicular com a diminuição da sua função, pelo que os praticantes desportivos que utilizam aqueles esteroides administram esta hormona de forma a tentar repor o funcionamento normal dos testículos.
Os malefícios orgânicos da administração desta hormona podem resultar da produção excessiva de testosterona pelos testículos.
Hormona de Crescimento (hGH)
Esta hormona aumenta linearmente a sua concentração plasmática até ao final da puberdade (quando se verifica uma estabilização do crescimento ósseo). O uso de hGH serve para aumentar a massa muscular e por isso tem um efeito semelhante ao dos esteroides anabolisantes.
No passado, a hormona de crescimento utilizada pelos praticantes desportivos para efeitos de dopagem tinha origem cadavérica, sendo geralmente adquirida no mercado negro. Originava reações alérgicas que podiam ser graves, visto a sua extração nos cadáveres originar a sua contaminação com outras proteínas.
O aparecimento da hormona de crescimento recombinante sintética levou a que os praticantes desportivos passassem a utilizar preferencialmente este tipo de hormona de crescimento, o que conduziu a uma diminuição dessas reações alérgicas. Os laboratórios antidopagem possuem atualmente um método para a deteção de hormona de crescimento recombinante no soro, pelo que existem suspeitas de que os praticantes desportivos estejam a recorrer de novo à hormona de crescimento com origem cadavérica, correndo os riscos já referidos.
A hormona de crescimento, quando tomada continuamente, origina gigantismo nas crianças e acromegalia nos adultos (situação clínica que se manifesta por crescimento exagerado das extremidades – mãos, pés, lábios e nariz – e de alguns órgãos e por alterações ósseas e da pele).
Predispõe igualmente à retenção de líquidos e de sódio, originando uma sobrecarga cardíaca, o aparecimento de diabetes e uma maior incidência de tumores malignos (por ex. leucemias). Este último efeito secundário está bem documentado em estudos realizados em crianças que têm que administrar hormona de crescimento por atrasos de crescimento, onde a incidência de leucemia é superior à verificada em jovens da mesma idade que não fazem esse tratamento.
Eritropoietina (EPO)
Esta hormona aumenta o número de glóbulos vermelhos (eritrócitos) no sangue por estimulação da formação destas células a nível da medula óssea, aumentando desse modo a capacidade de transporte do oxigénio. É principalmente usada em desportos de endurance. Esta substância, que mantém vivos milhões de insuficientes renais em todo o mundo, origina problemas gravíssimos de saúde quando utilizada por indivíduos saudáveis, como é o caso dos praticantes desportivos, dado que já têm habitualmente – devido ao condicionamento pelo treino – um nível mais elevado de glóbulos vermelhos.
A eritropoietina, ao provocar um aumento da viscosidade sanguínea, origina uma predisposição para acidentes vasculares cerebrais, enfartes do miocárdio, insuficiência cardíaca e edema pulmonar agudo, todas situações muito graves que podem conduzir à morte. Pode predispor igualmente o praticante desportivo para a hipertensão arterial e para flebotromboses nos membros inferiores. Estudos realizados em insuficientes renais crónicos, que administram eritropoietina de uma forma continuada para evitar a anemia associada aquela condição patológica, demonstraram que alguns destes pacientes desenvolvem uma aplasia medular para série rubra (diminuição ou ausência da produção de glóbulos vermelhos pela medula óssea) devido à produção de anticorpos antieritropoietina, resultando dai a instalação de anemia. Estes anticorpos antieritropoietina inativam a eritropoietina e por isso deixa de se verificar o estímulo produzido habitualmente por esta hormona a nível da medula óssea para a produção de glóbulos vermelhos.
Insulinas
A insulina é uma hormona produzida no pâncreas e tem um papel muito importante no metabolismo dos glúcidos. A diabetes é originada por um défice de produção de insulina pelo pâncreas ou por uma resistência periférica à mesma. Por isso, os diabéticos tipo I insulino-dependentes têm de administrar esta hormona diariamente. Esta hormona tem um efeito anabolisante e por isso é utilizada por praticantes desportivos que querem aumentar a sua massa muscular ou que querem repor rapidamente os seus níveis de glicogénio muscular após atividades desportivas intensas e prolongadas. Quando administrada sem supervisão médica, pode desencadear hipoglicémias que podem levar à morte em poucos segundos.
Fatores de crescimento
Os fatores de crescimento representam um grupo muito diversificado de fatores que potenciam diretamente o crescimento de órgãos e tecidos ou servem de mediadores para a estimulação de outros fatores de crescimento. Todos os fatores de crescimento que afetem a síntese/degradação proteica, a vascularização, a utilização energética, a capacidade regenerativa ou a mudança de tipo de fibra a nível do músculo, do tendão ou dos ligamentos são proibidos no desporto. Estes fatores de crescimento desempenham um papel fundamental na ortostasia do corpo humano, mas quando administrados por via exógena podem conduzir a alterações dessa ortostasia, não existindo neste momento estudos científicos longitudinais e canonizados que garantam a segurança da sua administração terapêutica.
Beta-2 agonistas
Os beta-2 agonistas são substâncias habitualmente utilizadas por via inalatória para o tratamento de doenças do foro respiratório, como a asma e a broncoconstrição induzida pelo exercício. Os praticantes desportivos podem solicitar a sua utilização terapêutica à respetiva organização antidopagem. Os praticantes desportivos utilizam estas substâncias porque quando utilizadas por via inalatória em doses supraterapêuticas ou por via oral têm efeitos anabolisantes e parecem ter igualmente efeitos euforizantes.
Estas substâncias, quando utilizadas em doses supraterapêuticas, podem originar alterações graves do ritmo cardíaco, com o aparecimento de arritmias, que podem ser fatais. Em indivíduos portadores de doenças cardíacas que predisponham a alterações do ritmo cardíaco, poderão ocorrer arritmias mesmo com a administração de doses terapêuticas destas substâncias. Alguns beta-2 agonistas podem também levar a alterações do metabolismo do potássio e dos glúcidos.
Antagonistas hormonais e moduladores
Esta secção integra um conjunto muito diversificado de grupos farmacológicos de antagonistas hormonais e moduladores que têm um efeito anabolisante muito semelhante ao dos agentes anabolisantes. Todas as substâncias que integram este grupo são utilizadas com fins terapêuticos, como por exemplo para o tratamento de doenças cancerígenas e da esterilidade.
Quando utilizadas com intuito de aumentar o rendimento desportivo, recorre-se geralmente a doses elevadas, muito acima das doses terapêuticas, pelo que os malefícios orgânicos da sua ingestão advêm dos efeitos secundários destas substâncias.
A miostatina é uma substância que existe no nosso organismo e que modula a síntese das proteínas, nomeadamente a nível muscular, e desse modo a administração de inibidores desta substância faz com que não exista essa modulação, conduzindo a um aumento da síntese das proteínas a nível do músculo e, por isso, a um aumento da massa muscular – com o inerente aumento da força muscular. Esta ausência de modulação da síntese proteica pode conduzir a uma hipertrofia desregulada de determinados órgãos, com os inerentes malefícios orgânicos que dai podem advir.
Diuréticos e outros agentes mascarantes
Os diuréticos são substâncias que aumentam a formação de urina pelos rins. Em medicina, são usados para controlar a hipertensão arterial, para diminuir edemas ou para combater a insuficiência cardíaca congestiva (doença originada pela falência do coração), entre outras. A utilização destas substâncias visando estratégias de dopagem pode ser motivada habitualmente por duas razões:
- Reduzir rapidamente o peso corporal em desportos em que há categorias de peso. O boxe, o judo, o halterofilismo e o remo são exemplos destes desportos. No culturismo, os diuréticos são usados como forma de “secar” os músculos, que assim terão melhor aspeto e definição;
- Aumentar a excreção urinária e assim eliminar mais rapidamente eventuais substâncias proibidas que tenham sido utilizadas, obtendo deste modo um efeito mascarante.
Estas substâncias podem ocasionar sérios efeitos secundários, como a ocorrência de graves perturbações do ritmo cardíaco por alterações do metabolismo do potássio que podem conduzir à morte, perturbações do equilíbrio hídrico por perda exagerada de líquidos, que pode ser grave em condições adversas de arrefecimento orgânico, dando origem a desidratação. Podem também causar alterações no metabolismo glucídico, com tendência para a hiperglicemia, conduzir a níveis elevados de ácido úrico no sangue e provocar alterações no metabolismo do cálcio e sódio que podem predispor os praticantes desportivos a lesões desportivas.
Estimulantes
Os estimulantes são substâncias que têm um efeito direto sobre o sistema nervoso central, aumentando a estimulação do sistema cardíaco e metabólico. Como exemplos de estimulantes utilizados para aumentar o rendimento desportivo temos as anfetaminas, a cocaína e as efedrinas.
Os estimulantes são usados para conseguir os mesmos efeitos da adrenalina, substância que é segregada naturalmente pelo organismo, produzindo excitação, melhorando os reflexos, aumentando a capacidade de tolerância ao esforço físico e diminuindo o limiar da dor.
Os estimulantes psicomotores, como é o caso das anfetaminas e substâncias similares, provocam uma perda de discernimento, o que pode favorecer em certas modalidades a ocorrência de acidentes envolvendo terceiros. Têm sido responsáveis por graves acidentes e mesmo mortes durante a atividade desportiva, pois ao provocarem a supressão da sensação de fadiga retiram ao organismo o seu “termóstato”, fazendo com que o praticante desportivo prossiga o esforço ultrapassando os limites superiores das suas capacidades fisiológicas. Logo após a ingestão de anfetaminas, o praticante desportivo pode apresentar agitação, irritabilidade, euforia, insónias, tonturas, tremores, dores de cabeça e náuseas.
Os utilizadores deste tipo de substâncias têm que recorrer muitas vezes à utilização de sedativos, para combater as insónias durante a noite. Como no dia seguinte muitas vezes ainda estão sobre o efeito desses sedativos, têm que tomar estimulantes para poderem treinar ou competir, assistindo-se deste modo a uma alternância entre a administração de estimulantes e sedativos, substâncias que em ambos os casos produzem dependência. Podem ainda apresentar sintomas mais graves, como confusão mental, aumento da agressividade, convulsões, alucinações e delírio. Ao aumentarem a tensão arterial e a frequência cardíaca, os estimulantes podem predispor os praticantes desportivos a crises hipertensivas, colapsos circulatórios e hemorragias cerebrais, que podem conduzir à morte.
A sua utilização frequente e continuada pode conduzir a dependência física e psíquica originando sintomatologia quando o praticante desportivo interrompe a sua toma (síndroma de abstinência). Verifica-se assim a viciação nestas substâncias e a necessidade de recorrer a doses cada vez mais elevadas para a obtenção dos mesmos resultados (escalada). Da sua toma prolongada pode também resultar emagrecimento, psicoses e doenças neurológicas.
As anfetaminas, assim como outros estimulantes, inibem não só a capacidade de perceção da fadiga, mas também a capacidade de perceção da dor e do golpe de calor, o que pode causar graves malefícios ao praticante desportivo, chegando mesmo a causar a morte. A administração de uma anfetamina associada a práticas desportivas prolongadas, desenvolvidas em condições atmosféricas caracterizadas por temperaturas elevadas e principalmente por uma humidade relativa elevada, pode ser fatal. Ao inibir os sinais anunciadores de golpe de calor e da desidratação e simultaneamente a capacidade de perceção da fadiga, estas substâncias levam a que o organismo ultrapasse os seus limites fisiológicos e agrave a desidratação sem que o praticante desportivo se dê conta desse facto.
Muitas das mortes súbitas em competição por utilização de substâncias proibidas devem-se à ingestão deste tipo de substâncias. Por vezes, os praticantes desportivos iniciam a toma deste tipo de substâncias para aumentar o seu rendimento desportivo em competição, mas ao ficarem dependentes das mesmas passam a tomá-las regularmente de modo a poderem treinar e a desempenhar as suas atividades sociais diárias.
As aminas simpaticomiméticas, como é o caso das efedrinas, fazem parte da constituição de diversos medicamentos utilizados para tratamento de resfriados, constipações e gripes e outras doenças do foro respiratório. Para estas substâncias, a Agência Mundial Antidopagem definiu limites de positividade em termos de concentrações urinárias que estão descritos na Lista de Substâncias e Métodos Proibidos, para que a sua utilização em doses terapêuticas não origine uma violação de uma norma antidopagem.
Em doses supraterapêuticas, estas substâncias podem provocar dores de cabeça, aumento da ansiedade, alterações do ritmo cardíaco e convulsões. Podem igualmente, em casos mais graves, conduzir a crises hipertensivas, hemorragias cerebrais, enfartes do miocárdio, arritmias cardíacas graves, que podem ser mortais, bem como a alterações psíquicas.
A cocaína é outra das substâncias estimulantes que pode causar a morte em competição, por provocar espasmo das artérias coronárias com o surgimento de enfarte do miocárdio. De resto, os seus efeitos adversos são muito semelhantes aos das anfetaminas, com o surgimento do perigo de viciação, de alterações psíquicas graves, da inibição da perceção de dor e fadiga, de agressividade, entre outros. Quando se verifica num praticante desportivo uma violação de uma norma antidopagem pela utilização de cocaína, verifica-se sempre a dúvida sobre qual foi a origem do problema: se o praticante desportivo iniciou a utilização de cocaína para aumento do seu rendimento desportivo, o que se verifica sobretudo nas modalidades que exigem esforços explosivos momentâneos ou num período muito específico da competição ou se iniciou a administração por motivos de ordem social, adquiriu a dependência e por isso não consegue realizar a sua atividade desportiva sem recorrer a essa substância.
Narcóticos
Os narcóticos proibidos no desporto estão representados pela morfina e compostos químicos e farmacológicos análogos, derivados do ópio. Atuam ao nível do sistema nervoso central, diminuindo a sensação de dor por aumento do limiar da mesma. São por isso utilizados para mascarar a sensação de dor e as manifestações da fadiga. Estas substâncias podem ocasionar alguns efeitos secundários como náuseas, vómitos, tonturas, prisão de ventre, cólicas abdominais e também originar perturbações mais graves com risco de dependência física e psíquica (viciação), delírio e mesmo a morte por paragem respiratória. Ao inibirem as manifestações da fadiga, podem conduzir a que o praticante desportivo ultrapasse os seus limites fisiológicos, pondo em risco a sua vida.
Canabinóides
Os canabinóides encontram-se descritos na Lista de Substâncias e Métodos Proibidos da Agência Mundial Antidopagem porque preenchem dois dos três critérios definidos pelo Código Mundial Antidopagem para que uma substância possa ser proibida no desporto: lesam ou têm potencial para lesar a saúde e violam o espírito desportivo.
Na grande maioria das modalidades desportivas, a utilização dos canabinóides não preenche o terceiro critério: aumentar, ou ter o potencial para aumentar, o rendimento desportivo. No entanto, em algumas modalidades onde é importante um controlo da ansiedade ou onde é fundamental o aumento da prontidão desportiva, estas substâncias podem na realidade aumentar o rendimento desportivo.
A prontidão desportiva consiste num conjunto de fatores necessários para que uma determinada atividade desportiva possa ser realizada. Por exemplo, numa atividade que implica um risco e que por isso conduz a um certo receio por parte do praticante desportivo em relação à sua realização, o uso de canabinóides – ao desinibir o praticante – pode aumentar o rendimento desportivo e simultaneamente aumentar o risco de acidentes. Estas substâncias interferem com a maior parte das funções psicomotoras, tais como a coordenação de movimentos, tempo de reação, perceção e acuidade visual, que podem prejudicar o desempenho desportivo e predispor para a lesão desportiva.
Nos desportos motorizados, nas atividades subaquáticas, na escalada ou em outras atividades desportivas de risco, estes efeitos secundários podem representar um risco de acidentes graves ou mesmo mortais. Em alguns desportos motorizados, por exemplo, esse risco estende-se a outros competidores, pessoas envolvidas na organização do evento desportivo e ao próprio público. Os canabinóides podem originar igualmente dependência física e psíquica, conduzindo também à possibilidade de utilização futura de drogas sociais mais graves.
Glucocorticosteróides
Estas substâncias possuem uma ação anti-inflamatória muito potente e por isso são utilizadas pelos praticantes desportivos para facilitar a recuperação muscular, para mascarar a sensação de dor e para a obtenção de um efeito euforizante. A realização de atividades desportivas de elevada exigência muscular, principalmente quando implicam uma atividade excêntrica dos músculos, conduz a danos ao nível da célula muscular, pondo em causa a recuperação desportiva, especialmente em competições disputadas em dias consecutivos. Neste tipo de atividades, a utilização de glucocorticosteróides, embora possa na realidade combater os fenómenos micro-inflamatórios instalados a nível muscular, mascara a sensação de dor motivada pelos danos a nível da célula muscular, levando a que haja uma falsa sensação de recuperação muscular.
A utilização destas substâncias é proibida no desporto, exceto quando em preparações tópicas, por inalação ou por via intra-articular, periarticular, peritendinosa, epidural e intradérmica. Nalguns destes casos, no entanto, é necessária uma notificação à organização antidopagem relevante.
O uso continuado destas substâncias pode ocasionar efeitos adversos graves, como úlceras gastro-duodenais com hipótese de hemorragia digestiva por perfuração, predisposição para a diabetes e para a osteoporose, aparecimento de alterações psíquicas, cataratas, predisposição para o aparecimento do glaucoma e da insuficiência suprarrenal.
A insuficiência suprarrenal pode levar à morte por défice de resposta do organismo a situações de elevado stress, como uma intervenção cirúrgica ou uma infeção grave. Estudos científicos realizados em praticantes desportivos profissionais demonstraram que cerca de 5 a 6 % deles apresentavam níveis de cortisol no sangue abaixo dos valores considerados normais. Como este facto indiciava a possibilidade de existência de uma insuficiência suprarrenal, alguns destes praticantes disponibilizaram-se para serem submetidos a uma prova de Synacten® para diagnóstico daquela insuficiência. Em cerca de metade dos praticantes que foram submetidos a essa prova foi diagnosticada insuficiência suprarrenal crónica, com o correspondente risco de consequências graves para a saúde já referidas. Esta insuficiência só pode ter resultado de uma administração regular e continuada destas substâncias. No entanto, mesmo a administração pontual desta substância – por exemplo uma dose única de infiltração intra-articular – pode igualmente conduzir à insuficiência suprarrenal aguda, situação que embora seja reversível e por isso limitada no tempo, pode conduzir durante a sua ocorrência a um défice de resposta do organismo a situações de elevado stress.
Beta-bloqueantes
Os beta-bloqueantes são utilizados para o tratamento da hipertensão arterial de situações pós-enfarte do miocárdio.
Os praticantes desportivos podem abusar destas substâncias na tentativa de diminuírem a ansiedade e o tremor, melhorando dessa forma o desempenho em atividades de precisão ou que são influenciadas negativamente pela ansiedade. Estas substâncias só são, por isso, proibidas em alguns desportos em particular.
Algumas destas substâncias podem provocar alterações do sono, alucinações e depressão. Em asmáticos e pessoas com problemas da condução cardíaca, podem provocar agravamento da asma ou mesmo paragem cardíaca. Podem igualmente provocar alterações do perfil lipídico, predispondo o praticante desportivo a doenças cardiovasculares, quando a sua utilização é prolongada no tempo. Em praticantes desportivos diabéticos, pode encobrir os sinais de hipoglicemia, conduzindo à morte.
Métodos de incremento do transporte de oxigénio
Estes métodos podem integrar não só a dopagem sanguínea, onde se incluem as transfusões sanguíneas e os produtos eritrocitários de qualquer origem, mas também todos os métodos que provoquem um incremento artificial da captação, transporte ou libertação de oxigénio, excluindo a administração de oxigénio por via inalatória.
Estes métodos de dopagem podem provocar efeitos adversos nos praticantes desportivos, quer se trate da transfusão do seu próprio sangue (autotransfusão) ou do sangue de outro indivíduo (heterotransfusão). No caso da autotransfusão, o praticante desportivo pode estar predisposto a infeções sanguíneas, embolia gasosa, acidentes vasculares cerebrais, hipertensão arterial e choque. Nas heterotransfusões, para além das situações referidas anteriormente, o praticante desportivo arrisca-se à transmissão da Hepatite B e C e do HIV, assim como à possibilidade de hemólise (destruição brusca dos glóbulos vermelhos por reações de incompatibilidade A, B, O e Rh). Qualquer uma destas situações pode provocar a morte do praticante desportivo. Estes riscos, embora possam existir em qualquer transfusão sanguínea realizada em ambiente hospitalar, têm um risco acrescido na sua utilização como métodos de dopagem. Esse risco acrescido deve-se ao facto de estas transfusões não serem realizadas em ambiente hospitalar e por pessoal com formação adequada, sendo muitas vezes realizadas em quartos de unidades hoteleiras por pessoas não credenciadas e recorrendo a unidades de sangue que não obedecem aos procedimentos de identificação, conservação e transporte adequados.
Todos os métodos que possam provocar um incremento artificial da captação, transporte ou libertação de oxigénio podem ser extremamente importantes na intervenção em situações patológicas em que haja a necessidade de repor os níveis normais de oxigénio. No entanto, quando utilizados em praticantes desportivos que já possuem uma capacidade de captação, transporte e libertação de oxigénio superior à do cidadão comum, a utilização desses métodos pode conduzir a um aumento da produção de radicais livres de oxigénio. Os radicais livres de oxigénio são formados a partir deste elemento por adição de um simples eletrão e representam substâncias muito maléficas para o nosso organismo, causando graves lesões orgânicas, com destruição das membranas e proteínas celulares, de estruturas articulares e mesmo a lesão do ADN dos cromossomas, podendo conduzir ao aparecimento de neoplasias e a uma maior predisposição para doenças cardiovasculares.
Manipulação química e física
Estes métodos de dopagem podem representar uma grande diversidade de técnicas que levam à adulteração, ou tentativa de adulteração da integridade das amostras recolhidas no âmbito de um controlo de dopagem. Um exemplo será a utilização de algaliação para substituição da urina, a alteração da urina através da introdução de proteases ou as transfusões intravenosas.
As algaliações e as transfusões intravenosas realizadas em praticantes desportivos como método de dopagem são utilizadas geralmente em condições que não respeitam as boas práticas em cuidados de saúde. Por exemplo, muitas vezes são realizadas por pessoal não qualificado, sem condições ideais de assepsia e em locais inapropriados, com todas as consequências nocivas que dai podem advir.
Dopagem genética
A dopagem genética representa a transferência de células – ou de elementos genéticos – e o uso de agentes farmacológicos ou biológicos que alterem a expressão genética com o intuito de melhorar o rendimento desportivo. Uma série de técnicas de manipulação genética estão neste momento a ser investigadas para o tratamento de múltiplas doenças de difícil tratamento, como por exemplo determinadas distrofias musculares e a doença de Parkinson. Existem rumores de que os praticantes desportivos e outros agentes desportivos tenham solicitado informação sobre estas técnicas com o intuito de melhorarem o seu rendimento desportivo. A utilização da manipulação genética para produção de eritropoietina por células não renais, ou visando o aumento da síntese proteica a nível muscular, são exemplos de técnicas que podem ser, ou vir a ser, utilizadas.
A eficácia da dopagem genética no aumento do rendimento desportivo não está comprovada cientificamente, existindo a possibilidade de os praticantes desportivos serem aliciados para a utilização deste método de dopagem a troco de verbas elevadas, sem que haja a garantia que elas são eficazes e seguras. Antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, uma televisão europeia infiltrou um pseudo-praticante desportivo equipado com uma câmara oculta numa clínica chinesa onde alegadamente se utilizavam técnicas de dopagem genética. O diretor dessa clínica ofereceu ao jornalista a possibilidade de realizar um tratamento com administração intravenosa de células estaminais, visando o aumento do rendimento desportivo, quando se sabe que não há qualquer evidência científica de que essa administração possa conduzir a esse resultado.
A investigação científica sobre estas técnicas tem revelado que mesmo que elas sejam realizadas em meio laboratorial, e por isso em condições ideais, podem resultar em efeitos secundários graves, que serão muito mais sérios se estas técnicas forem realizadas em ambiente não controlado. Por exemplo, são habitualmente utilizados vírus inativados como meios de transporte do material genético utilizado nestas técnicas, o que em meio não controlado poderá traduzir-se me riscos muito graves para a saúde. A maioria das técnicas de manipulação genética visa a alteração do material genético de células e a estimulação da sua replicação, sem que no entanto existam mecanismos que controlem esses processos. Este facto leva a que em alguns casos se verifique uma maior predisposição para o aparecimento de neoplasias em pessoas submetidas a manipulação genética. O aumento da produção de eritropoietina por células não renais, através da manipulação genética, conduz aos mesmos efeitos secundários da administração da eritropoietina recombinante.
Para além dos efeitos secundários acima descritos e de outros que já foram identificados, existem eventualmente outros que apenas serão identificados no futuro, pois neste momento e devido a tratarem-se de técnicas muito recentes, não existem estudos longitudinais que permitam garantir a segurança de algumas destas técnicas.
Em conclusão, e por tudo aquilo que acima se referiu, não restam dúvidas em relação aos graves malefícios orgânicos que as substâncias proibidas podem provocar nos praticantes desportivos, justificando isto só por si todos os esforços que os organismos internacionais e nacionais fazem para a prevenção da sua utilização.
A divulgação dos malefícios a curto e a longo prazo das substâncias proibidas deve constituir o pilar principal de ações preventivas do combate à dopagem dirigidas a todos os agentes influentes no fenómeno desportivo (praticantes desportivos, treinadores, dirigentes, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, massagistas, etc.).
Suplementos Nutricionais
Porque é que a utilização de suplementos pelos praticantes desportivos representa um problema?
A nível mundial, a produção de suplementos nutricionais não está adequadamente regulada pelos governos. Isto significa que os ingredientes que compõem o produto poderão não corresponder aos que são mencionados na informação contida na embalagem. Em alguns casos, nas substâncias não declaradas que entram na composição dos suplementos, encontram-se substâncias que são proibidas segundo os regulamentos antidopagem.
Estudos demonstraram que pelo menos 20 % dos suplementos destinados a praticantes desportivos à venda no mercado podem conter substâncias que não estão mencionadas nos rótulos e que podem dar origem a um caso positivo. Um número considerável de casos positivos tem sido atribuído ao uso de suplementos.
E nos casos em que os governos têm legislação adequada e devidamente aplicada?
Mesmo nos países onde a indústria de suplementos está corretamente regulada e a lei é devidamente aplicada, a contaminação – quer acidental, quer deliberada – pode mesmo assim ocorrer. Nada garante, por exemplo, que um lote de um suplemento não esteja contaminado, mas que o lote seguinte esteja. Isto obriga a que todos os lotes tenham de ser controlados, o que não acontece na prática.
Qual é a posição da AMA em relação à utilização dos suplementos?
A AMA defende que uma adequada nutrição é muito importante para todos os praticantes desportivos, e muito especialmente para os que competem a nível internacional. A AMA está igualmente muito preocupada com o número de praticantes desportivos que estão interessados em utilizar suplementos, tendo um conhecimento diminuto sobre quais os benefícios que na realidade podem resultar da sua ingestão e quanto ao facto de poderem ou não conter substâncias proibidas.
É necessário ter presente que o facto de um praticante desportivo ter ingerido um suplemento nutricional cuja informação contida no rótulo não era correta não representa uma forma adequada de defesa, no decurso de uma audição de um procedimento disciplinar relativo a um caso positivo. Os praticantes desportivos deverão estar alertados para os perigos da potencial contaminação dos suplementos e das implicações da aplicação do princípio da responsabilidade objetiva.
No ano 2000, a Comissão de Atletas do Comité Olímpico Internacional emitiu uma declaração em que referia: “Desejamos alertar os praticantes desportivos de todo o mundo para o facto de estudos recentes terem demonstrado que os suplementos podem conter drogas, que conduzirão a casos positivos para substâncias que integram a Lista de Substâncias Proibidas. Além disso, nós como Comissão, defendemos com veemência que os praticantes desportivos deverão assumir total responsabilidade por todas as drogas que são encontradas no seu organismo, devido à utilização de suplementos nutricionais.”
O que acontece se um praticante desportivo tem um caso positivo por ingerir um suplemento?
De acordo com a regra da responsabilidade objetiva, os praticantes desportivos são responsáveis por qualquer substância que seja encontrada no seu organismo. É irrelevante a forma como a substância entrou no seu organismo. Se um praticante desportivo tem um caso positivo, o resultado é a desclassificação e uma possível sanção ou suspensão. Em última análise, os praticantes desportivos são responsáveis por aquilo que ingerem.
E se um praticante desportivo necessita realmente de utilizar um suplemento?
Os praticantes desportivos que acreditam que têm necessidade de utilizar um suplemento devem antes de mais consultar um profissional competente, tal como um nutricionista do desporto ou um médico especialista em medicina desportiva, de forma a assegurarem-se que a prescrição desses suplementos é na realidade necessária e que não pode ser substituída pela ingestão normal de alimentos.
Se os profissionais supracitados aconselharem a utilização de suplementos, estes deverão ser adequados às necessidades dos praticantes desportivos e seguros para a sua saúde. Os praticantes desportivos deverão ingeri-los com conhecimento pleno e aceitação da regra da responsabilidade objetiva.
O Grupo de Trabalho sobre Nutrição do Comité Olímpico Internacional emitiu em 2003 um documento definindo a sua posição face à utilização de suplementos pelos praticantes desportivos: “Os praticantes desportivos devem ser alertados em relação à utilização indiscriminada de suplementos nutricionais. Os suplementos que forneçam nutrientes essenciais poderão ter um papel importante quando existam restrições na ingestão alimentar ou na diversidade dessa ingestão. Mas a sua utilização visando um adequado aporte nutricional é normalmente apenas uma opção de curto prazo. A utilização de suplementos não compensa as falhas de uma dieta inadequada. Os praticantes desportivos que pretendam utilizar suplementos deverão levar em consideração a sua eficácia, o seu custo, o risco para a saúde e rendimento desportivo, e o seu potencial efeito como causa de um caso positivo.”
Que mais deverão saber os praticantes desportivos sobre os suplementos?
A maioria dos produtores de suplementos publicitam efeitos benéficos dos seus produtos que não estão validados por resultados de investigação científica, mas raramente alertam os consumidores para os potenciais efeitos secundários dos mesmos. A indústria dos suplementos tem, como qualquer indústria, objetivos comerciais e desse modo os praticantes desportivos deverão receber o apoio necessário de forma a poderem distinguir as estratégias comerciais da realidade dos factos.
Se os praticantes desportivos decidirem utilizar um suplemento, são aconselhados a adquirirem produtos de empresas que tenham uma boa reputação no mercado e que utilizem boas práticas de produção, como por exemplo grandes empresas farmacêuticas multinacionais. Os praticantes desportivos podem contactar os produtores para obtenção de informação suplementar ou, de preferência, deverão solicitar ao seu médico para os contactar em seu nome. Como alertas em geral:
- Suplementos que publicitam propriedades de “aumentar a massa muscular” ou de “queimar gordura” têm maior risco de conterem substâncias proibidas, tais como agentes anabolisantes ou estimulantes;
- As designações “produto herbanário” e “natural” não significam necessariamente que o produto é seguro;
- As seguintes substâncias são exemplos de substâncias proibidas que podem estar presentes em suplementos nutricionais:Dehidroepiandrosterona (“DEHA”); Androstenediona/Androstenediol (e variações incluindo “19” e “nor”); Efedrina; Anfetamina(s) (também existentes em drogas sociais como o “ecstasy”) e Metilhexaneamina (dimetilpentilamina), às vezes apresentada como dimetilamilamina, pentilamina, geranamina, Forthane, 2-amino4-metilhexane, extrato de raiz de gerânio ou óleo de gerânio.
As vitaminas e os minerais não são proibidos, mas os praticantes desportivos são aconselhados a utilizarem produtos de empresas reputadas e a evitarem produtos que associem vitaminas e minerais a outras substâncias.
O mercado negro e os produtos não rotulados requerem cuidados particulares: os praticantes desportivos não deverão usar nada que tenha uma origem desconhecida, mesmo que venha de um treinador ou de um praticante desportivo amigo.
Ao comprar suplementos através da internet, os praticantes desportivos deverão evitar empresas que não fornecem o seu endereço comercial para além de uma caixa postal, ou que só forneçam contactos que previnam a sua localização, tal como um endereço eletrónico.
Nota – mesmo se um praticante desportivo seguir estes alertas, não há garantia de que a toma de um suplemento não possa resultar num caso positivo.
Qual é a relação entre o óleo de gerânio e a Metilhexaneamina?
Estudos científicos recentes demonstraram claramente que o óleo de gerânio natural não contém metilhexaneamina e que o uso de óleo de gerânio não pode ser considerado como a fonte da presença de metilhexaneamina, ou de metabolitos relacionados, numa amostra de urina colhida para efeitos de controlo de dopagem.
A metilhexaneamina é uma substância farmacológica classificada como estimulante que foi comercializada até ao início dos anos 70. A metilhexaneamina reapareceu como componente de suplementos alimentares de venda livre em alguns mercados ou na Internet.
A metilhexaneamina é proibida enquanto estimulante sob a seção 6.b da Lista de Substâncias e Métodos Proibidos para 2014.
Os praticantes desportivos devem ter presente que a metilhexaneamina tem sido disponibilizada sob várias denominações, sendo uma delas óleo de gerânio e está presente em alguns suplementos nutricionais ou com a sua designação própria ou com uma das outras designações referidas acima.
O que está a ser feito para minimizar os problemas causados pela utilização de suplementos?
A AMA, em cooperação com o Canadian Centre for Ethics in Sport, o Canadian Olympic Commitee e o Sport Canada, organizaram há alguns anos em Montreal um simpósio para debater as consequências do uso e abuso de suplementos nutricionais por praticantes desportivos. Os participantes de organizações do desporto, das agências nacionais antidopagem, das áreas médica e científica, da indústria e dos governos, em conjunto com praticantes desportivos de elite e treinadores, discutiram e realizaram recomendações específicas para ações a desenvolver a curto, médio e longo prazo. Essas recomendações incluem:
- Acordo em relação a uma definição comum de suplementos nutricionais;
- Implementação de um programa coordenado de investigação, para identificar quais os suplementos que estão a ser utilizados pelos praticantes desportivos, e porque razões;
- Estabelecimento de uma base de dados sobre todos os suplementos existentes no mercado, para assegurar o acesso a toda a informação disponível e segura sobre esses produtos;
- Considerar a possibilidade de existência de um programa de autorregulação visando o incremento da qualidade, a minimização da contaminação e a garantia de uma rotulagem adequada. Normas rigorosas e a realização de auditorias e controlos independentes por terceiros são aspetos importantes desse programa;
- Publicação pelos governos de regulamentos apropriados destinados à indústria, de modo a garantir as suas responsabilidades em termos de saúde pública, para a proteção dos consumidores, e de educação;
- Organização de um simpósio, de forma a assegurar que as recomendações foram concretizadas e para a coordenação de ações interventivas.
A quem devo solicitar informação sobre a segurança relativa à toma de um determinado suplemento nutricional, no âmbito da luta contra a dopagem?
Para este tipo de questões, a ADoP recomenda o recurso ao e-mail antidopagem@adop.pt, através do qual o praticante desportivo ou o seu pessoal de apoio podem colocar questões relativamente à segurança dos suplementos nutricionais.
Idealmente, essas questões devem ser acompanhadas de informação relativa à composição do suplemento e de uma ligação para a página internet do produto, ou de quem o comercializa.
A experiência acumulada pela ADoP relativa a violações de normas antidopagem ocasionadas pela ingestão de suplementos nutricionais contendo substâncias proibidas, ou de suplementos nutricionais contaminados, permite concluir que alguns praticantes desportivos são negligentes, pois procuram obter informação relativa à segurança dos suplementos nutricionais junto de profissionais que não possuem a formação específica para fornecer tais esclarecimentos, como por exemplo sucede com os funcionários de lojas de produtos dietéticos e com determinados membros do seu pessoal de apoio.